Sonho.

Uma dor percorreu-me depois daquelas palavras... Inconsciente do que me rodeava terminei o que tinha a fazer. Deitei-me, fechei os olhos e deixei-me invadir por ela... Após conseguir um controlo mínimo sobre a minha respiração e batimento cardíaco abri os olhos com cuidado, sem saber se era exactamente aquilo que desejava fazer. Encontrava-me envolta na mais espessa neblina que não me deixava ver para além de um palmo de distância à minha frente. Senti-me invadida por aquela tristeza que entorpecia todos os meus músculos... Avançei vacilante por entre a grande parede de massa que me rodeava, sem saber ao certo onde me encontrava e sinceramente sem vontade de o descobrir.

De repente, uma luz ao fundo apareceu vinda do nada. Era brilhante, quente... Fui obrigada a fechar os olhos. Nesse momento a luz penetrou cada célula do meu ser e vislumbrei. Como se me encontrasse numa cadeira de cinema observei, projectadas em grande plano, imagens dos melhores momentos da minha vida. Vi-os a todos, vi cada uma das pessoas que me marcou e me fez sorrir, vi cada fragmento mais vivo do que nunca. Quando dei por mim já há muito que os meus olhos tinham transbordado. Desejei poder correr e mergulhar naquelas memórias, refugiar-me onde a felicidade marcava cada um dos meus passos, onde tudo era perfeito. As saudades foram avassaladoras e eu simplesmente deixei-me levar.

Abri os olhos, soltei Aslan e emergi a cabeça do meio dos lençois. Peguei no telémovel e a luz ofuscou-me. Li as horas que o pequeno relogio me indicava. Tinham passado nem dez minutos desde a última vez que examinara aquele ecrã à procura de uma eventual pista de... apenas dez minutos.

Sei que fugir não é a solução, mas recriminei-me por não ter tido a capacidade de me deixar levar por aquelas visões. Seria tão mais fácil... mas não estaria correcto e mais tarde ou mais cedo teria de enfrentar a realidade.

Agora vem o Natal. Apesar da falta óbvia de espírito natalício este ano, vou tentar aproveitar estes próximos dias para me tentar afastar o máximo de possiveis complicações. Pode ser que, no fim deste descanço, esteja apta a controlar-me.

(Ainda agora olho, à espera. Estou aqui, num esforço desmedido para controlar o meu coração e o meu impulso seria... mas não, não o vou fazer. É assim que as coisas devem ser e afinal, isto só fortalece, não é o que dizem?)

Nota:
1 DAN
8 DAPA
50 DAF (DALM)